sexta-feira, 28 de outubro de 2016

O que fazer em fachadas com cerâmicas com EPU

O que fazer ao se deparar com uma fachada na situação abaixo?


A grande maioria das pessoas, sem conhecimento técnico e envolvidas com o problema, diria que o certo seria verificar toda área revestida com cerâmica, identificando os pontos "soltos" para que fossem extraídos e substituídos. Essa é a decisão correta? Vamos analisar.

Uma das razões mais recorrentes para a ocorrência de desplacamento de peças cerâmicas em fachada de edificações é o excesso da EPU. Mas o que é EPU?

EPU é a sigla para a expressão Expansão Por Umidade. Atua individualmente nas placas cerâmicas, fazendo com que estas peças aumentem suas dimensões (altura, largura e espessura), ou seja, aumentem seu volume. Toda peça de revestimento cerâmico passa por um processo de Expansão Por Umidade, de forma simplificada explicaremos. Durante os ciclos industriais da produção do setor ceramista ocorrem etapas de queima e secagem em forno que podem chegar a altas temperaturas (700oC). Esses elevados índices térmicos extraem praticamente toda água contida no corpo cerâmico; isso ocorre de forma facilitada dada a esbeltez das peças - em modelos de 10x10cm a espessura normal é de 6mm. Ao ser recolocada de volta ao meio para o uso da Construção Civil, essas peças tendem a reabsorver e reter a umidade perdida logo após a saída do forno, deixando evidente o início de um processo de adsorção¹. O processo de adsorção, além de mudar algumas características do material, favorece o surgimento de esforços solicitantes oriundos do aumento volumétrico da peça cerâmica, eis que aí está o fato gerador do desprendimento do revestimento. 

¹ Adsorção
Processo pelo qual átomos, moléculas ou íons são retidos na superfície de sólidos através de interações de natureza química ou física.



O processo expansivo é finito, mas pode durar anos (5, 10, 15 anos), normalmente a maior parte dessa expansão acontece já com o revestimento aplicado na edificação. Prevendo essa situação a Norma NBR 13818 recomenda que esse aumento não seja superior a 0,6% (0,6mm por m) das dimensões das peças. 

O que pode-se perceber é que o excesso de EPU é a causa do surgimento de tensões formando um "jogo de empurra-empurra", todas as peças expandem com pequenas variações de intensidade e geram uma trama de tensões


Como na parte posterior das peças (tardoz) se encontra o substrato base de assentamento (revestimento argamassado e a alvenaria de vedação ou concreto), só resta uma opção: deslocar-se para frente. Estes deslocamentos geram as famosas "barrigas" que são formações abauladas ao longo do sistema de revestimento cerâmico, são extremamente frágeis, pois normalmente as peças estão unidas somente pela argamassa de rejuntamento e a tendência é o colapso pontual.


Os colapsos pontuais serão constantes causando o surgimento de áreas com cerâmicas faltantes e exposição do emboço, substrato base de assentamento. Mas, porque descolam-se algumas áreas e outras não? A resposta é simples, as áreas que desprendem-se são as mais frágeis e em sua periferia estão as áreas fragilizadas. O interessante é que essas áreas com peças cerâmicas faltantes tornam-se zonas de alívio de tensões, ou seja, não dão prosseguimento ao "jogo de empurra-empurra".



Nesse momento vamos lembrar da decisão da grande maioria das pessoas, sem conhecimento técnico e envolvidas com o problema, que diriam que o certo seria verificar toda área revestida com cerâmica, identificando os pontos "soltos" para que fossem extraídos e substituídos. Essa é a decisão correta? Certamente não, pois ao repor as áreas faltantes, voltaria a condição inicial do problema através do retorno da trama de tensões. E o que ocorrerá se forem reassentadas as peças faltantes? Bem, é claro que novamente a área mais fragilizada se desprenderá e muito provavelmente será bem próxima da anteriormente colapsada, pois deve-se lembrar que no entorno de uma área frágil, temos uma região fragilizada.



Então se temos um sistema revestimento cerâmico com peças que se descolam do substrato por esforços gerados pelo excesso de EPU, o que deve ser feito? Primeiro, os testes de verificação devem apontar o excesso de EPU do revestimento (verificar os procedimentos do ensaio na NBR 13818). Se o revestimento está desplacando, fica comprovado que as tensões geradas pela EPU excessiva são superiores à capacidade de aderência da peça ao substrato, bem, nesse caso o desempenho do revestimento cerâmico é insuficiente e o mesmo está condenado. A solução é a substituição total. Os reparos pontuais não resolverão e são extremamente perigosos pois geram uma falsa sensação de segurança; o desplacamento irá continuar em outras áreas, por isso também esses procedimentos são viciosos e onerosos.



Para finalizarmos, fica a dica: 

Sempre procure um profissional habilitado e capacitado para interpretar os problemas de uma edificação através de um diagnóstico técnico. Muitas situações de Patologia de Edificações parecem, mas não são, nada óbvias.



Engº Civil Esp. Lawton Parente
Construtor, Consultor e Professor
Pós-Graduado em Engenharia Diagnóstica e Patologia das Edificações
Diretor Técnico do IBAPE-CE - Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia do Ceará
Conselheiro do CREA-CE - Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Ceará 
Membro do Instituto de Engenharia de São Paulo

CONSTRUTORA ENGETERRA
ENGETERRA DIAGNÓSTICA

+85 3472.1674

blog: www.lawtonparente.blogspot.com.br
site: www.construtoraengeterra.com
email: engenharia@construtoraengeterra.com

facebook: Lawton Parente

2 comentários:

  1. Como faço para não correr risco de acontecer este EPU ?

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    1. Bom, 02 maneiras. A primeira e mais confiável é realizar o ensaio de EPU efetiva em amostras das peças, e antes do assentamento, este procedimento e os parâmetros são definidos na NBR 13818 da ABNT, que está sendo revisada. Em São Paulo, o SENAI e o IPT fazem, e para todo Brasil.
      A outra maneira é investigar o histórico do fabricante com eventuais problemas com EPU.
      Espero ter ajudado. Abraço!

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