sexta-feira, 24 de junho de 2016

Queda de cerâmica da fachada - O que fazer?


 
Desprendimento de peças cerâmicas em fachada

O que você faria ao se deparar com o seu prédio na situação da foto acima?

Repentinamente algumas poucas peças cerâmicas se desprendem da fachada do prédio e ao analisar de forma mais intensa, percebe-se que aquela área da fachada está comprometida em vários outros pontos. E agora, o que fazer?

No primeiro momento a tendência geral é completar pontualmente as áreas afetadas, reaplicando novas peças cerâmicas e aí começam os primeiros problemas, pois se o condomínio não possui estoque de reposição iguais às desprendidas, fatalmente o fechamento desses pontos se dará com peças visivelmente diferentes tornando a edificação uma “colcha de retalhos” (vide foto abaixo) e, por fim, desvalorizando inevitavelmente o imóvel. Isto ocorre por alguns motivos, entre eles temos:

- A indústria ceramista é dinâmica e vários modelos de peças cerâmicas produzidas são retiradas de linha para dar vez a novos modelos com novas cores, texturas e formatos;

- Mesmo havendo encontrado a cerâmica específica que se esteja procurando, ainda assim a indústria ceramista não garante a mesma tonalidade de cor das peças quando se trata de lotes de produção diferentes e isto se entende devido as caraterísticas individuais de cada fornada de produção;

- Existe a possibilidade da produção artesanal de peças que imitam e se aproximam muito da situação original, porém o custo financeiro é muito alto e não se aplica à grandes extensões de reposição.

Fachada "colcha de retalhos"

Mesmo enfrentando o dilema da “colcha de retalhos”, a maioria dos síndicos e gestores optam por fazer os reparos pontuais motivados pelo fator financeiro. Quem trabalha ligado a condomínios sabe que é muito comum encontrar essas pessoas jurídicas em situação financeira não tão favorável, aliás não é regra mas é a grande maioria, pois condomínios são empresas sem fins lucrativos geridas normalmente por não especialistas. Sendo assim o financeiro pesa na hora da decisão, então opta-se por realizar o reparo pontual e, neste momento, surge mais um problema que é: Quem vai executar o serviço? Bem, estes reparos pontuais são realizados normalmente por autônomos que trabalham com valores bem atrativos. Para este tipo de contratação de mão de obra temos a observar:

- O trabalho em altura é realizado sob extremo risco de ocorrência de acidentes fatais, inclusive este tipo de operação é regida exclusivamente pelo Ministério do Trabalho e Emprego - MTE através de sua Norma Regulamentadora – NR 35. Ao contratar tal mão de obra o condomínio assume todo o risco inerente e o síndico torna-se o responsável civil e penal por qualquer evento fatídico que venha a ocorrer. Não é demais alertar que o síndico deve pensar no coletivo, mas nunca esquecer que suas responsabilidades individuais são muito grandes;

- Os autônomos utilizam comumente equipamentos de acesso à fachada chamados de “cadeirinhas” e normalmente são artefatos feitos de madeira que proporcionam extremo risco e são condenadas pela NR 35 do MTE. O restante dos Equipamentos de Proteção Individuais – EPIs normalmente não atendem às Normas de Segurança nos quesitos de uso, de adequabilidade e de prazo de validade;

- Os trabalhos realizados por autônomos sem orientação técnica profissional têm qualidade, no mínimo, duvidosa, pois são regidos pelo empirismo e pela prática do costumeiro. Normalmente não há planejamento prévio, nem critério técnico durante a execução e os resultados não são analisados como deveriam.

Autônomo em cadeira de madeira e sem qualquer EPI 

Após citadas as implicações relativas à problemática do material e da mão de obra, não seria demais acrescentarmos os fatores das falhas de concepção e de execução do serviço, pois assim demostraremos de forma inquestionável que o reparo pontual de fachada deve ser repudiado, uma vez que esteja comprovado o comprometimento generalizado do sistema de revestimento cerâmico da fachada. Não é muito difícil aceitar que o sistema de revestimento de uma fachada foi executado sob o mesmo método construtivo e com a utilização dos mesmos materiais em sua plenitude, pois bem, então o que explicaria alguns trechos desprenderem e outros não? Bom, vários fatores influenciam. Analisando o questionamento, temos como principais situações:

- Falha da mão de obra original: A desobediência de tempo em aberto da argamassa colante e o procedimento inadequado para aplicação das peças cerâmicas são os dois fatores mais incidentes na apuração de falhas da mão de obra. Os dois fatores isolados ou em conjunto, anulam a qualidade do sistema de revestimento cerâmico aderido e embasam de forma sólida a condenação da fachada. É fácil entender que é uma questão de tempo para que todo o sistema entre em colapso, já que o erro é generalizado e está na origem;

- Materiais inadequados originais: A utilização de materiais inadequados para aplicação de um sistema de revestimento cerâmico durante a execução da obra original, já demonstra por si somente a não possibilidade de reconstituição dos espaços pontuais desprendidos através dos reparos localizados, pois mesmos que sejam reparadas várias áreas, muitas outras ainda estarão sobre a ineficácia destes materiais não apropriados. Para deixar claro, o risco sempre é iminente e perene.

- EPU: A Expansão Por Umidade – EPU é uma característica inevitável em todas as peças cerâmicas oriundas de queima em forno. De forma breve, este processo de expansão volumétrica da peça cerâmica ocorre devido a perca total de água quando da sua introdução no forno da indústria e a capacidade posterior de adsorção fazendo a peça “crescer” ao longo do tempo. O fato em si é admissível, mas com limites, pois se esse crescimento volumétrico se torna excessivo, são geradas tensões entres as peças que resultam na expulsão de áreas do revestimento formando áreas destacadas (as famosas “barrigas”) e essas situações geram uma zona de alívio de tensões, pois ali apareceu espaço para a expansão. Neste momento se a solução por reparo pontual é aplicada, completando com novas peças cerâmicas a área desprendida, não é difícil entender que as tensões irão ressurgir e o trecho vizinho ao ponto reparado será a próxima área a desprender-se. É claro e evidente perceber que esse procedimento se transforma em um ciclo vicioso, ineficaz e oneroso, criando uma falsa sensação de segurança.

Formação de saliências de descolamento, as famosas "barrigas"

Reparo pontual realizado e novo desprendimento ao lado

A exposição dos fatores e critérios relativos aos reparos de fachadas deixa clara que os síndicos e gestores devem buscar uma parceria com profissionais especialistas para realizar um trabalho seguro e orientado. Ações desastradas e pouco estudadas irão gerar ou perpetuar situações de risco que certamente resultarão em graves acidentes. A edificação deve ser um pouso seguro e confortável para seus moradores e nunca uma ameaça.

Engº Civil Lawton Parente
Pós-Graduado em Engenharia Diagnóstica e Patologia das Edificações
Diretor Técnico do IBAPE-CE - Instituto Brasileiro de Avaliações de Perícias de Engenharia do Ceará
Conselheiro do CREA-CE - Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Ceará 

CONSTRUTORA ENGETERRA
ENGETERRA DIAGNÓSTICA

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