- Sistema de Camadas sobre alvenaria;
- Sistema de Camadas sobre estruturas de concreto.
Sistema de Revestimento Cerâmico Aderido
A variação do
substrato base entre alvenaria ou concreto armado, a variação da espessura da
camada de emboço por erros de prumada, os procedimentos de cura ou de aplicação
da argamassa colante, são alguns fatores que pedem bastante atenção e determinam
a escolha técnica de componentes de alguma camada ou implementação de técnicas e
produtos adequados para cada caso.
Voltando as
atenções aos sistemas escolhidos, contata-se que os dois tipos de situações são
os mais corriqueiros em obras nacionais desta natureza e características,
assim, se tornam fundamentais seus entendimentos, métodos construtivos, métodos
de reparo e comportamentos ao longo de sua vida útil.
01. Sistemas de Camadas – Sobre alvenaria ou sobre concreto armado
O Sistema de
Camadas sobre alvenaria é constituído por: alvenaria em bloco cerâmico,
chapisco, emboço, argamassa colante e revestimento cerâmica; esse é o sistema mais
simples e mais comum. Já
o Sistema de Camadas sobre concreto armado é constituído por: concreto armado,
chapisco colante, tela metálica, emboço, argamassa colante e revestimento
cerâmico; este requer um pouco mais cuidado e técnica, pois novos
“ingredientes” surgem no “sanduíche”. Jamais nenhuma dessas camadas deve ser suprimida, seja qual for o sistema.
Seguindo a concepção
de que quanto menos heterogêneo for um sistema, mais estável e confiável ele é,
desde que obedecidas as exigências normativas e a boa técnica de execução, temos
nesses sistemas uma base segura para a grande maioria das áreas revestidas no
Brasil. Para os dois Sistemas de Camadas apontados, temos quatro interfaces,
são elas:
1ª - Bloco de
tijolo cerâmico ou Concreto armado/Chapisco ou Chapisco Colante;
2ª - Chapisco
ou Chapisco Colante/Emboço;
3ª - Emboço/Argamassa Colante;
4ª - Argamassa
Colante/Revestimento Cerâmico.
Antes da
análise em si, faz-se importante compreender que o quesito mais significante quando
tratamos de sistemas de revestimento cerâmico em fachadas é a ADERÊNCIA.
Segundo o significado linguístico, temos para a palavra “Aderência” o seguinte:
qualidade ou atributo do que é aderente, união de uma coisa com outra ou
outras, junção; ou seja, aderência é tudo o que precisamos como aliada da
segurança e da estabilidade em um revestimento de fachada em todas as suas
interfaces. Partindo deste ponto, o que poderia prejudicar essa aderência nas
interfaces dessas camadas?
02. Problemas de aderências entre as interfaces
Alguns
fatores devem ser observados para que se entenda o porquê de haver problemas
entre as interfaces de um sistema de revestimento cerâmico aderido em fachadas,
mas todos eles irão migrar, preferencialmente, para o resultado final de falta
aderência. Elegerei aqui cinco situações para analise, as mais usuais que venho
encontrando nestes últimos anos de convívio prático e teórico com essas
manifestações patológicas na cidade de Fortaleza/CE e em alguns lugares do
Brasil. Para análise desses problemas nos sistemas escolhidos, convido a fazermos um passeio sobre a essência da Engenharia
Diagnóstica, com seus elementos de: Diagnóstico, Prognóstico e Prescrição;
fundamentos básicos para a Patologia das Edificações.
02.01. Desprendimento
volumétrico
Desprendimento volumétrico
DESCRIÇÃO:
Trata-se de um desprendimento de todo volume de revestimentos, desde o chapisco
até a cerâmica, incluindo toda a composição da massa de enchimento. Considero
um dos mais perigosos sinistros em fachadas de edificações.
LOCAL DA
RUPTURA: Normalmente ocorre na interface do substrato de Concreto Armado/Chapisco,
não é comum vermos essa ocorrência em interfaces de Alvenaria/Chapisco.
DIAGNÓSTICO
PROVÁVEL: Falta de aderência do chapisco na estrutura de concreto. A superfície
de concreto se apresenta complemente aparente, como se fora recém desformada. As
prováveis causas são: a falta de aderência da camada de chapisco com a peça de
concreto e pode ser motivada por: contaminação (sujidades, pós, oleosidades, resíduos de fôrmas...)
presente na face da peça de concreto a ser revestida, traço inadequado de
chapisco (chapisco “fraco”), falta de cura do chapisco, grande espessura do
revestimento argamassado, sobrecargas não projetadas, deformação lenta do
concreto armado.
INÍCIO DA
MANIFESTAÇÃO E PROGNÓSTICO PROVÁVEIS: Presença de som cavo quando submetido à
percussão, surgimento de fissuras de repetidas na mesma região em pavimentos
distintos, fissuras de borda, desprendimento do volume.
PRESCRIÇÃO
PROVÁVEL: Na etapa de execução: Exigir projeto de completo de execução de
fachada, seguir fielmente as indicações do projetista, exigir o alinhamento da
estrutura de concreto armado da edificação para evitar altas espessuras de prumadas.
Para obras de recomposição de revestimento cerâmico: Extração do volume
comprometido, descontaminação do substrato, aplicação de chapisco colante com
cordões horizontalizados sobre a estrutura de concreto, aplicação de tela
metálica adequada e emboço de recomposição.
02.02.
Argamassa colante – Tempo em Aberto
excedido
DESCRIÇÃO:
Trata-se da ultrapassagem do tempo permitido ao pedreiro para que ele assente
um revestimento cerâmico sobre uma argamassa colante fresca aplicada na
superfície da fachada.
LOCAL DA
RUPTURA: Normalmente ocorre na interface Argamassa Colante/Revestimento
Cerâmico.
DIAGNÓSTICO
PROVÁVEL: Falta de aderência do revestimento cerâmico à argamassa colante. Por algum
motivo (desatenção, imprudência, imperícia...) o pedreiro assentador
aplica uma camada de argamassa colante em uma área muito extensa ou realiza um
assentamento de forma morosa. O
tempo em aberto está intimamente relacionado com a dimensão do pano de
aplicação aberto pelo pedreiro e sua velocidade de assentamento. É certo que, ultrapassado
este tempo, a argamassa se torna imprópria a receber cerâmica, pois já iniciou
seu processo de endurecimento. Com o desprendimento das peças cerâmicas, serão
perceptíveis os cordões não desmanchados de argamassa colante deixados pela
desempenadeira dentada.
INÍCIO DA
MANIFESTAÇÃO E PROGNÓSTICO PROVÁVEIS: Presença de som cavo quando submetido à
percussão, eventualmente formações abauladas (“barrigas”) no revestimento
cerâmico, desprendimentos de peças recorrentes com pouca ou nenhuma argamassa
em seu tardoz.
PRESCRIÇÃO
PROVÁVEL: Na etapa de execução: Abrir panos de assentamento de acordo com a
velocidade de assentamento do pedreiro, mas preferencialmente com dimensões de
no máximo 1m², em locais com presença de agente catalizadores de secagem
superficial (insolação, calor, ventos...) utilizar as argamassas com aditivos
de para tempo estendido (tipo AC III – E).
Para obras de recomposição de revestimento cerâmico: após a extração de todo
revestimento cerâmico e das áreas com argamassa colante instáveis, recompor a
planicidade, aplicar o novo revestimento cerâmico e recompor as juntas
elásticas. Nunca aplicar mais água à mistura.
02.03.
Arraste de assentamento não executado
Arraste com as mãos - Cordões desmanchados
DESCRIÇÃO: Trata-se do
posicionamento inicial, momento do assentamento, da peça cerâmica ou da tela de
peças próximo a sua posição definitiva. A partir deste contato inicial com o
substrato base de assentamento, é promovido o arraste, com as mãos, para o
ponto final de paginação da peça fazendo com que os cordões deixados pela
desempenadeira dentada sejam desmanchados.
LOCAL DA
RUPTURA: Normalmente ocorre na interface Argamassa Colante/Revestimento
Cerâmico.
DIAGNÓSTICO
PROVÁVEL: Falta de aderência do revestimento cerâmico à argamassa colante. Por
algum motivo (desatenção, imprudência, imperícia...) o pedreiro assentador
aplica o revestimento cerâmico sem a técnica do arraste. Usualmente utilizando
somente uma marreta de borracha para bater nas peças cerâmicas, os cordões não
são desmanchados, a área de contato cerâmica/argamassa colante fica reduzida e
a aderência de colagem comprometida.
Com o desprendimento das peças cerâmicas, serão perceptíveis os cordões de
argamassa colante amassados e não desmanchados.
INÍCIO DA
MANIFESTAÇÃO E PROGNÓSTICO PROVÁVEIS: Presença de som cavo quando submetido à
percussão, eventualmente formações abauladas (“barrigas”) no revestimento
cerâmico, desprendimentos de peças recorrentes com pouca ou nenhuma argamassa
em seu tardoz.
PRESCRIÇÃO
PROVÁVEL: Na etapa de execução: Exigir do assentador o arraste das peças ou
placas de peças com as mãos (com treinamento e capacitação) e restringir o uso
da marreta de borracha a pequenos ajustes de posicionamento das peças ou telas.
Para obras de recomposição de revestimento cerâmico: após a extração de todo
revestimento cerâmico e das áreas com argamassa colante instáveis, recompor a
planicidade, aplicar o novo revestimento cerâmico e recompor as juntas
elásticas.
02.04. Descolamento cerâmico por pulverulência de
substrato
Descolamento cerâmico por pulverulência de substrato
DESCRIÇÃO:
Trata-se de um descolamento e desprendimento de revestimento cerâmico por falta
de adesividade proporcionada pelo excesso de partículas soltas (pulverulência) na
face externa da camada de revestimento argamassado – Emboço.
LOCAL DA
RUPTURA: Na interface Emboço/Argamassa Colante.
DIAGNÓSTICO
PROVÁVEL: A peça cerâmica se desprende trazendo, normalmente toda argamassa
colante presa ao seu tardoz, assim, a aderência na interface cerâmica/argamassa
colante está preservada, porém, na interface argamassa colante/emboço percebe-se
uma fina do emboço camada pulverulenta presa à argamassa colante. As prováveis
causas são: falha ou falta de cura do revestimento argamassado – Emboço, os
finos do agregado do emboço absorvem mais água que seus aglomerantes que não
reagem totalmente, excesso de aglomerante (nem todos se transformam em ligante)
deixando partículas sem reação, excesso de exsudação, exposição demasiada do emboço recém-executado à
agentes catalizadores de secagem superficial (insolação, calor, ventos...).
INÍCIO DA
MANIFESTAÇÃO E PROGNÓSTICO PROVÁVEIS: Presença de som cavo quando submetido à
percussão, eventualmente formações abauladas (“barrigas”) no revestimento
cerâmico, desprendimentos de peças recorrentes trazendo uma fina camada de
emboço (01-02mm).
PRESCRIÇÃO
PROVÁVEL: Na etapa de execução: No momento da execução do emboço, mitigar
fatores que possam extrair água da superfície deste revestimento argamassado,
como evaporação, insolação, exsudação e ventos que ressecam sua face externa.
Promover cura adequada e checar traços propostos. Para obras de recomposição de
revestimento cerâmico: deve ser extraída esta fina camada por meio de desbaste
rotativo e verificar, através de testes e ensaios técnicos, a possibilidade
deste revestimento argamassado original ser recomposto e reutilizado para assim
receber um novo revestimento cerâmico.
02.05.
Excesso de engobe no tardoz das peças
Excesso de engobe no tardoz das peças
DESCRIÇÃO: Trata-se de uma presença excessiva de engobe (pó branqueado) no tardoz das peças do revestimento cerâmico.
DIAGNÓSTICO PROVÁVEL: Falta de aderência do revestimento cerâmico à argamassa colante. Por algum motivo (erro em processo industrial, imprudência, imperícia...) a indústria ceramista aplica mais engobe no tardoz das peças cerâmicas que o aceitável. O engobe cumpre o papel de auxiliar na movimentação das peças cerâmicas recém-fabricadas nas esteiras da fábrica, aplicado em excesso, se torna um material isolante muito prejudicial à aderência no momento da aplicação do revestimento cerâmico na fachada.
INÍCIO DA
MANIFESTAÇÃO E PROGNÓSTICO PROVÁVEIS: Presença de som cavo quando submetido à
percussão, eventualmente formações abauladas (“barrigas”) no revestimento
cerâmico, desprendimentos de peças recorrentes com pouca ou nenhuma argamassa
em seu tardoz, presença de engobe na seção de ruptura.
PRESCRIÇÃO
PROVÁVEL: Na etapa de execução ou para obras de recomposição de revestimento
cerâmico: Observar previamente o revestimento cerâmico quanto a presença de
engobe. Sempre irá existir o engobe, mas caso em excesso, opte por devolver o
produto ou por extrair de forma eficaz este material.
03. Comentários e c onclusão
Estas cinco situações
apresentadas são bem distintas, ao ponto de sua sintomatologia tornar menos
difícil o trabalho do perito ou do patologista. Me deparo constantemente com
essas situações de risco, edificações necessitando urgentemente de manutenções
corretivas. Percebo de forma muito clara vários casos em que os usuários de
algumas edificações contam com a sorte divina de não ocorrer acidentes graves
ou fatais, já os de outras edificações são mais cautelosos. Como de costume, não
custa lembrar:
Concluo que,
se observados estes pontos, certamente serão suprimidas as maiores e mais
corriqueiras manifestações patológicas originárias de anomalias construtivas nas
interfaces dos sistemas de revestimento cerâmico aderido, e ainda, se reparadas
como exposto, tem-se uma condição extraordinária de obtermos um desempenho
satisfatório, uma vida útil renovada e uma edificação segura.
Engº Civil Esp. Lawton Parente
j
- Construtor, Consultor e Professor
- Pós-Graduado em Engenharia Diagnóstica e Patologia das Edificações
- Associado ao Instituto de Engenharia de São Paulo
- Diretor Técnico - IBAPE-CE - Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia
- Conselheiro Regional - CREA-CE - Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Ceará
CONSTRUTORA ENGETERRA - Revitalizando e valorizando patrimônios
ENGETERRA DIAGNÓSTICA - Estudos Técnicos de Engenharia
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