“A cerâmica
caiu limpa”
Porque peças
cerâmicas descolam e desprendem de fachadas praticamente sem conter nenhuma,
ou muito pouca, argamassa colante em seu tardoz?
Nos últimos
16 anos tenho trabalhado intensamente com obras de revitalização de fachadas de
prédios habitados. Na maioria dos casos essas revitalizações são motivadas por
manifestações patológicas no revestimento cerâmico que, a princípio, descola-se
do substrato base de assentamento (emboço) e em seguida desprende-se, gerando
na edificação graves situações de risco à integridade e à vida de seus
usuários, visitantes, funcionários e transeuntes, inclusive externos.
Descolamento
de revestimento cerâmico, desprendimento iminente
Ao nos
depararmos com uma edificação com seu sistema de revestimento cerâmico aderido
atacado por anomalias ou falhas, na maioria dos casos, encontraremos peças
cerâmicas desprendidas com seu tardoz praticamente limpo, como se o contato com
a argamassa colante tenha sido mínimo, ou mesmo nem existira.
Tardoz das
peças cerâmicas praticamente limpo
O que
ocorreu? Para responder a pergunta, basicamente voltaremos nossa atenção a dois
fatores que contribuem de forma efetiva para o surgimento deste tipo de
manifestação patológica. Estes fatores giram em torno da mão de obra e da
argamassa colante. Deste modo, analisaremos os tópicos apontando origens,
causas e prevenções:
- É preciso
aferir a velocidade de assentamento do profissional fazendo um contraponto com
a dimensão do pano de abertura, ou seja, a área de argamassa colante espalhada
no emboço para assentamento imediato das peças cerâmicas;
- Panos
abertos com dimensões muito grandes é uma prática condenável. Muitas vezes os
profissionais assentadores, por desconhecimento ou pela ânsia da produção,
espalham a argamassa em grandes áreas. O fato é que em determinado momento da
aplicação das peças, parte daquela área já ultrapassou o limite do tempo em
aberto, tendo iniciado seu estado de secagem propriamente dito;
Abertura de
grandes panos de assentamento - Condenado
- Percebendo
a secagem da argamassa colante, alguns assentadores ao invés de extrair aquela argamassa
inadequada, pioram ainda mais a situação, espargindo mais água com broxas,
tornando aquela mistura completamente inadequada (fraca) em sua relação
água/aglomerante;
- Sempre
escuto aquela pergunta: “qual o tamanho ideal do pano?”, costumo a responder
que: “o tamanho do pano ideal é o tamanho do braço do pedreiro”, ou seja, no
máximo 1 metro de largura por 1 metro de altura. Isto preserva muita coisa;
- A escolha
da argamassa também influi. Obviamente para fachadas prediais, a argamassa
recomendada é, pelo menos, uma do tipo ACIII, porém ainda temos a variação AC
III E que garante um tempo em aberto apropriado acrescido de mais 10 minutos, a
depender do fabricante. Então deve-se observar se o assentamento cerâmico está
acontecendo em uma região de ventos severos (pavimentos mais altos por exemplo)
ou em fachada de poente (temperaturas mais elevadas) com influência de
evaporação ou mesmo em área de difícil acesso com produtividade restrita,
nesses casos, vale a pena lançar mão das argamassas colante ACIII E;
ABNT - NBR 14.081
- Uma boa
forma de saber se aquela argamassa colante está ou não adequada a receber peças
cerâmicas é o Teste do Contato, que consiste em tocar com os dedos na argamassa
colante espalhada. Caso os dedos sujem e seja percebido o frescor da
argamassa, essa ainda está apta à receber o revestimento. Caso os dedos
não sujem ou sujem pouco, é hora de remover a argamassa, o Tempo em Aberto está
vencido;
- Deve-se atentar para
os 05 tempos das argamassas: Prazo de validade, Tempo de descanso pós-mistura, Tempo na
masseira, Tempo em aberto (com tempo acrescido nos casos de argamassa colante tipo E)
e Tempo de cura. Todos estes tempos devem ser
rigorosamente obedecidos e sempre devem ser conferidos nas instruções de cada
fabricantes;
- A falta de
arraste da peça cerâmica, no momento do assentamento, não desfaz os cordões
formados pela desempenadeira dentada. Isto reduz a área de contato e não
promove a firme adesividade. No desprendimento da peça, percebe-se a presença dos
cordões sobre o substrato simplesmente amassados;
Presença dos cordões sobre o substrato simplesmente amassados
- Em
revestimentos cerâmicos com presença de garras cônicas de ancoragem (peças
extrudadas) ou com área de peça superior à 900cm² (30x30cm), deve ser
aplicado o método da Dupla Colagem, bem como para este último caso, a
utilização de argamassas especiais apropriadas para grandes formatos (tipo
carga mineral, por exemplo), contribuem para uma melhor aderência na interface
argamassa/peça cerâmica.
Peças com
grandes formatos - Falta de Dupla colagem
Atentando
para estes pontos expostos, estaremos realizando um trabalho embasado na boa
técnica, tornando as fachadas das edificações mais seguras e duráveis.
Engº Civil Esp. Lawton Parente
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- Construtor, Consultor e Professor
- Pós-Graduado em Engenharia Diagnóstica e Patologia das Edificações
- Associado ao Instituto de Engenharia de São Paulo
- Diretor Técnico do IBAPE-CE - Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia do Ceará
- Conselheiro e Diretor do CREA-CE - Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Ceará
CONSTRUTORA ENGETERRA - Revitalizando e valorizando patrimônios
ENGETERRA DIAGNÓSTICA - Estudos Técnicos de Engenharia
ENGETERRA DIAGNÓSTICA - Estudos Técnicos de Engenharia