Muro de residência - Cerâmica sobre pintura
Não é muito difícil encontrarmos este tipo de problema de desplacamento de peças cerâmicas nas edificações, mas, porque, neste caso específico, isto ocorre? A origem será a cerâmica? Ou a argamassa colante? Ou mesmo o reboco? Ou existe algo diferente desses elementos construtivos, que ocasiona o insucesso da aderência deste sistema de revestimento cerâmico? Vamos colocar nosso espírito investigativo para funcionar e verificar o que houve e como poderia ser evitado.
Pela imagem,
percebe-se que trata-se de muro de uma residência e que, inicialmente, possuía
revestimento de pintura a base cal. Certamente o proprietário, pensando em
valorizar seu imóvel e acabar com a necessidade de repinturas, resolveu aplicar
nesta área um revestimento cerâmico. Esta decisão realmente alcançaria o
objetivo, porém houve claramente falta de técnica que resultou no insucesso.
Tecnicamente
o que ocasionou esta manifestação patológica, o desprendimento de peças
cerâmicas, não foi a cerâmica, nem a argamassa colante ou o reboco, aliás
poderíamos utilizar os esses materiais na categoria mais nobre a disposição no
mercado, mesmo assim essas peças se desprenderiam, e porquê? Porque o método de
preparo da área de assentamento e a execução foram extremamente infelizes, sem
nenhuma técnica adequada. Nunca deve
ser aplicado revestimento cerâmico sobre revestimento de pintura, lembre-se, NUNCA. A camada de tinta
torna-se um isolante natural na interface reboco/argamassa colante. Dois
motivos básicos são os responsáveis para esse isolamento:
a) A camada
de tinta veda os poros do reboco ou emboço, fundamentalmente necessários para o
bom desempenho de certos tipos de argamassas colantes que atuam através do
preenchimento desses canais de capilaridade, formando uma micro-ancoragem
extremamente saudável à preservação da aderência. Verificando a figura temos:
No caso (1),
no caso de reboco ou emboço, os seus poros estão abertos e a
argamassa colante penetra nesses capilares formando a micro-ancoragem, tornando assim uma situação
favorável à aderência. No caso (2), de forma errada a argamassa colante foi
aplicada sobre a camada de pintura (tinta), não havendo a necessária penetração,
pois a tinta já é o agente preenchedor desses poros capilares.
b) Alguns
tipos de argamassa colante não necessitam dos poros para conferir aderência a
um revestimento cerâmico, como por exemplo as do tipo indicadas para sobre-colagem
de revestimentos, mesmo elas, não conseguiriam obter bom desempenho nestes
casos, pois o fator pulverulência (presença de pós) na camada de tinta,
causa o isolamento naquela interface; o grau pulverulência pode aumentar de
acordo com o tipo e a qualidade da tinta e seus componentes. Outro ponto a ser
observado é a constatação de que o revestimento cerâmico usa uma fina camada de
tinta como base fixação, ou seja, uma camada de tinta (frágil) “segurando”
um revestimento cerâmico.
Isto posto,
podemos tomar algumas conclusões e observações:
- Na condição
de aplicar revestimento cerâmico sobre camada de pintura, nem utilizando os
melhores materiais, teremos aderência e, só o acaso poderá manter este
revestimento aderido por muito tempo sem ocorrer desprendimentos de peças;
Fragilidade do contato - Restiram-se peças com a mão
- Percebemos que na base de assentamento fora aplicado picotes, esses furos que intencionam conferir mais atrito, pois bem, não exercem função alguma;
Picotes em substrato base
- Em qualquer
momento do problema, as juntas elásticas de movimentação ou dilatação não
resolveriam. Nem se fossem aplicadas no momento da execução do serviço;
- Neste caso
especificamente, estas peças cerâmicas deveriam ser assentadas com o método da
dupla colagem (pelas suas dimensões). Percebemos que não foi apliicado o método
e nem sequer os cordões de argamassa colante deixados pela desempenadeira
dentada foram desfeitos. Mesmo assim, com um assentamento cerâmico muito deficitário,
a argamassa colante não aderiu ao substrato (tinta) permanecendo no tardoz
(parte de trás) da peça cerâmica, o que demonstra a fragilidade da interface argamassa colante/substrato de assentamento.
Cordões de argamassa colante não foram foram desfeitos.
E como este
serviço deveria ter sido executado para que não tivesse obtido um desempenho tão
pífio? A resposta seria:
- Verificar as
condições de composição e estabilidade do reboco;
- Extrair completamente
a camada de pintura deixando com rugosidade similar a de um emboço;
- Aplicar uma
camada de argamassa de transição e nivelamento;
- Aplicar o
revestimento cerâmico utilizando materiais adequados e as técnicas normativas.
Lembram da
falta de técnica apontada no começo deste artigo? Pois bem, é muito comum pessoas
não técnicas tomarem decisões as quais cabem a um técnico ou um especialista no
assunto, isso torna a situação necessariamente dependente da sorte ou de
“profissionais” desqualificados tecnicamente. Vez por outra escutamos bordões desses tipos de "profissionais": “mas eu faço assim há muito tempo, e nunca tive
problema...”. Será? Será que ele retornou algum tempo depois para conferir o desempenho
do seu serviço? Se realmente não ocorreu problemas? Certamente não volta. Tempos
depois, o tal problema aparece. Para isso existem os profissionais especialistas, os produtos de qualidade e as técnicas adequadas, até mesmo para simplesmente aplicar uma cerâmica em um
muro.
Engº Civil Esp. Lawton Parente
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- Construtor, Consultor e Professor
- Pós-Graduado em Engenharia Diagnóstica e Patologia das Edificações
- Associado ao Instituto de Engenharia de São Paulo
- Diretor Técnico do IBAPE-CE - Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia do Ceará
- Conselheiro e Diretor do CREA-CE - Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Ceará
CONSTRUTORA ENGETERRA - Revitalizando e valorizando patrimônios
ENGETERRA DIAGNÓSTICA - Estudos Técnicos de Engenharia
ENGETERRA DIAGNÓSTICA - Estudos Técnicos de Engenharia