segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Cerâmica sobre pintura - Nunca

Muro de residência - Cerâmica sobre pintura

Não é muito difícil encontrarmos este tipo de problema de desplacamento de peças cerâmicas nas edificações, mas, porque, neste caso específico, isto ocorre? A origem será a cerâmica? Ou a argamassa colante? Ou mesmo o reboco? Ou existe algo diferente desses elementos construtivos, que ocasiona o insucesso da aderência deste sistema de revestimento cerâmico? Vamos colocar nosso espírito investigativo para funcionar e verificar o que houve e como poderia ser evitado.

Pela imagem, percebe-se que trata-se de muro de uma residência e que, inicialmente, possuía revestimento de pintura a base cal. Certamente o proprietário, pensando em valorizar seu imóvel e acabar com a necessidade de repinturas, resolveu aplicar nesta área um revestimento cerâmico. Esta decisão realmente alcançaria o objetivo, porém houve claramente falta de técnica que resultou no insucesso.

Tecnicamente o que ocasionou esta manifestação patológica, o desprendimento de peças cerâmicas, não foi a cerâmica, nem a argamassa colante ou o reboco, aliás poderíamos utilizar os esses materiais na categoria mais nobre a disposição no mercado, mesmo assim essas peças se desprenderiam, e porquê? Porque o método de preparo da área de assentamento e a execução foram extremamente infelizes, sem nenhuma técnica adequada. Nunca deve ser aplicado revestimento cerâmico sobre revestimento de pintura, lembre-se, NUNCA. A camada de tinta torna-se um isolante natural na interface reboco/argamassa colante. Dois motivos básicos são os responsáveis para esse isolamento:

a) A camada de tinta veda os poros do reboco ou emboço, fundamentalmente necessários para o bom desempenho de certos tipos de argamassas colantes que atuam através do preenchimento desses canais de capilaridade, formando uma micro-ancoragem extremamente saudável à preservação da aderência. Verificando a figura temos:
  

No caso (1), no caso de reboco ou emboço, os seus poros estão abertos e a argamassa colante penetra nesses capilares formando a micro-ancoragem, tornando assim uma situação favorável à aderência. No caso (2), de forma errada a argamassa colante foi aplicada sobre a camada de pintura (tinta), não havendo a necessária penetração, pois a tinta já é o agente preenchedor desses poros capilares.

b) Alguns tipos de argamassa colante não necessitam dos poros para conferir aderência a um revestimento cerâmico, como por exemplo as do tipo indicadas para sobre-colagem de revestimentos, mesmo elas, não conseguiriam obter bom desempenho nestes casos, pois o fator pulverulência (presença de pós) na camada de tinta, causa o isolamento naquela interface; o grau pulverulência pode aumentar de acordo com o tipo e a qualidade da tinta e seus componentes. Outro ponto a ser observado é a constatação de que o revestimento cerâmico usa uma fina camada de tinta como base fixação, ou seja, uma camada de tinta (frágil) “segurando” um revestimento cerâmico.

Isto posto, podemos tomar algumas conclusões e observações:

- Na condição de aplicar revestimento cerâmico sobre camada de pintura, nem utilizando os melhores materiais, teremos aderência e, só o acaso poderá manter este revestimento aderido por muito tempo sem ocorrer desprendimentos de peças;

Fragilidade do contato - Restiram-se peças com a mão

- Percebemos que na base de assentamento fora aplicado picotes, esses furos que intencionam conferir mais atrito, pois bem, não exercem função alguma;

Picotes em substrato base

- Em qualquer momento do problema, as juntas elásticas de movimentação ou dilatação não resolveriam. Nem se fossem aplicadas no momento da execução do serviço;

- Neste caso especificamente, estas peças cerâmicas deveriam ser assentadas com o método da dupla colagem (pelas suas dimensões). Percebemos que não foi apliicado o método e nem sequer os cordões de argamassa colante deixados pela desempenadeira dentada foram desfeitos. Mesmo assim, com um assentamento cerâmico muito deficitário, a argamassa colante não aderiu ao substrato (tinta) permanecendo no tardoz (parte de trás) da peça cerâmica, o que demonstra a fragilidade da interface argamassa colante/substrato de assentamento.

Cordões de argamassa colante não foram foram desfeitos.

E como este serviço deveria ter sido executado para que não tivesse obtido um desempenho tão pífio? A resposta seria:

Verificar as condições de composição e estabilidade do reboco;
- Extrair completamente a camada de pintura deixando com rugosidade similar a de um emboço;
- Aplicar uma camada de argamassa de transição e nivelamento;
- Aplicar o revestimento cerâmico utilizando materiais adequados e as técnicas normativas.


Lembram da falta de técnica apontada no começo deste artigo? Pois bem, é muito comum pessoas não técnicas tomarem decisões as quais cabem a um técnico ou um especialista no assunto, isso torna a situação necessariamente dependente da sorte ou de “profissionais” desqualificados tecnicamente. Vez por outra escutamos bordões desses tipos de "profissionais": “mas eu faço assim há muito tempo, e nunca tive problema...”. Será? Será que ele retornou algum tempo depois para conferir o desempenho do seu serviço? Se realmente não ocorreu problemas? Certamente não volta. Tempos depois, o tal problema aparece. Para isso existem os profissionais especialistas, os produtos de qualidade e as técnicas adequadas, até mesmo para simplesmente aplicar uma cerâmica em um muro.

     Engº Civil Esp. Lawton Parente
j
    - Construtor, Consultor e Professor
    - Pós-Graduado em Engenharia Diagnóstica e Patologia das Edificações
    - Associado ao Instituto de Engenharia de São Paulo
    - Diretor Técnico do IBAPE-CE - Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia do Ceará
    - Conselheiro e Diretor do CREA-CE - Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Ceará 
    
   CONSTRUTORA ENGETERRA - Revitalizando e valorizando patrimônios
   ENGETERRA DIAGNÓSTICA - Estudos Técnicos de Engenharia



   Fone: +85 3472.1674
    

    Email: engenharia@construtoraengeterra.com
    Facebook/LawtonParente