sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Problema na Fachada - “A cerâmica caiu limpa”

“A cerâmica caiu limpa”

Porque peças cerâmicas descolam e desprendem de fachadas praticamente sem conter nenhuma, ou muito pouca, argamassa colante em seu tardoz?


Nos últimos 16 anos tenho trabalhado intensamente com obras de revitalização de fachadas de prédios habitados. Na maioria dos casos essas revitalizações são motivadas por manifestações patológicas no revestimento cerâmico que, a princípio, descola-se do substrato base de assentamento (emboço) e em seguida desprende-se, gerando na edificação graves situações de risco à integridade e à vida de seus usuários, visitantes, funcionários e transeuntes, inclusive externos.

Descolamento de revestimento cerâmico, desprendimento iminente

Ao nos depararmos com uma edificação com seu sistema de revestimento cerâmico aderido atacado por anomalias ou falhas, na maioria dos casos, encontraremos peças cerâmicas desprendidas com seu tardoz praticamente limpo, como se o contato com a argamassa colante tenha sido mínimo, ou mesmo nem existira.
Tardoz das peças cerâmicas praticamente limpo

O que ocorreu? Para responder a pergunta, basicamente voltaremos nossa atenção a dois fatores que contribuem de forma efetiva para o surgimento deste tipo de manifestação patológica. Estes fatores giram em torno da mão de obra e da argamassa colante. Deste modo, analisaremos os tópicos apontando origens, causas e prevenções:

- É preciso aferir a velocidade de assentamento do profissional fazendo um contraponto com a dimensão do pano de abertura, ou seja, a área de argamassa colante espalhada no emboço para assentamento imediato das peças cerâmicas;

- Panos abertos com dimensões muito grandes é uma prática condenável. Muitas vezes os profissionais assentadores, por desconhecimento ou pela ânsia da produção, espalham a argamassa em grandes áreas. O fato é que em determinado momento da aplicação das peças, parte daquela área já ultrapassou o limite do tempo em aberto, tendo iniciado seu estado de secagem propriamente dito;

Abertura de grandes panos de assentamento - Condenado

- Percebendo a secagem da argamassa colante, alguns assentadores ao invés de extrair aquela argamassa inadequada, pioram ainda mais a situação, espargindo mais água com broxas, tornando aquela mistura completamente inadequada (fraca) em sua relação água/aglomerante;

- Sempre escuto aquela pergunta: “qual o tamanho ideal do pano?”, costumo a responder que: “o tamanho do pano ideal é o tamanho do braço do pedreiro”, ou seja, no máximo 1 metro de largura por 1 metro de altura. Isto preserva muita coisa;

- A escolha da argamassa também influi. Obviamente para fachadas prediais, a argamassa recomendada é, pelo menos, uma do tipo ACIII, porém ainda temos a variação AC III E que garante um tempo em aberto apropriado acrescido de mais 10 minutos, a depender do fabricante. Então deve-se observar se o assentamento cerâmico está acontecendo em uma região de ventos severos (pavimentos mais altos por exemplo) ou em fachada de poente (temperaturas mais elevadas) com influência de evaporação ou mesmo em área de difícil acesso com produtividade restrita, nesses casos, vale a pena lançar mão das argamassas colante ACIII E;

ABNT - NBR 14.081

- Uma boa forma de saber se aquela argamassa colante está ou não adequada a receber peças cerâmicas é o Teste do Contato, que consiste em tocar com os dedos na argamassa colante espalhada. Caso os dedos sujem e seja percebido o frescor da argamassa, essa ainda está apta à receber o revestimento. Caso os dedos não sujem ou sujem pouco, é hora de remover a argamassa, o Tempo em Aberto está vencido;


Deve-se atentar para os 05 tempos das argamassas: Prazo de validade, Tempo de descanso pós-mistura, Tempo na masseira, Tempo em aberto (com tempo acrescido nos casos de argamassa colante tipo E) e Tempo de cura. Todos estes tempos devem ser rigorosamente obedecidos e sempre devem ser conferidos nas instruções de cada fabricantes;

- A falta de arraste da peça cerâmica, no momento do assentamento, não desfaz os cordões formados pela desempenadeira dentada. Isto reduz a área de contato e não promove a firme adesividade. No desprendimento da peça, percebe-se a presença dos cordões sobre o substrato simplesmente amassados;

Presença dos cordões sobre o substrato simplesmente amassados

- Em revestimentos cerâmicos com presença de garras cônicas de ancoragem (peças extrudadas) ou com área de peça superior à 900cm² (30x30cm), deve ser aplicado o método da Dupla Colagem, bem como para este último caso, a utilização de argamassas especiais apropriadas para grandes formatos (tipo carga mineral, por exemplo), contribuem para uma melhor aderência na interface argamassa/peça cerâmica.

Peças com grandes formatos - Falta de Dupla colagem

Atentando para estes pontos expostos, estaremos realizando um trabalho embasado na boa técnica, tornando as fachadas das edificações mais seguras e duráveis.

     Engº Civil Esp. Lawton Parente
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    - Construtor, Consultor e Professor
    - Pós-Graduado em Engenharia Diagnóstica e Patologia das Edificações
    - Associado ao Instituto de Engenharia de São Paulo
    - Diretor Técnico do IBAPE-CE - Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia do Ceará
    - Conselheiro e Diretor do CREA-CE - Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Ceará 
    
   CONSTRUTORA ENGETERRA - Revitalizando e valorizando patrimônios
   ENGETERRA DIAGNÓSTICA - Estudos Técnicos de Engenharia


   Fone: +85 3472.1674
    

    Email: engenharia@construtoraengeterra.com
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